Três gerações, as mesmas receitas de sempre...




As queijadas de Serpa nasceram das comuns queijadas de requeijão, na década de 70.


Na altura a minha avó desempregada veio atrás do meu avô que se deslocou para Serpa para a construção da ponte sobre o Guadiana. Ficaram em Serpa alguns anos até que o meu avô ficou desempregado.


Uma vizinha ao ver o desespero da minha avó por não ter o que dar de comer aos filhos deixou-lhe: 6 ovos, farinha, açúcar e margarina em cima da mesa (naquela altura toda a gente deixava o postigo aberto). Contudo, ela sem saber o que fazer com tais ingredientes, ouvi-o a sugestão da minha mãe (na altura com apenas 8 anos), e fez madalenas.


A minha mãe vendeu-as porta a porta para ganhar algum dinheiro, e quando voltou a casa trazia com ela imensas encomendas. Foi assim que a minha avó arregaçou as mangas e começou a fazer bolos.


Passado algum tempo uma amiga da minha avó ensinou-lhe imensas receitas de bolos que fazia, muitas regionais e tradicionais. Entre elas estavam as queijadas! Até então as queijadas de requeijão eram um doce que só se faziam em alturas festivas ou casamentos, por ter um custo elevado devido às suas matérias-primas. Quando a minha avó começou a fazer queijadas começaram a ganhar fama, e o negócio cresceu.


Em 1977 fez o registo de propriedade industrial e abriu um pequeno fabrico.




Queijadas de Serpa, a origem do nome...



Aqui, a responsabilidade recai sobre o meu avô, que quando foi fazer a publicidade para o estabelecimento resolveu que “queijadas de Serpa” soava melhor que “queijadas de requeijão” e a partir de então ficaram assim conhecidas!


A origem da receita que foi dada à minha avó não é conhecida, sabemos apenas que na década de 50 já se faziam queijadas de requeijão em Serpa, e calculamos que tenha origem em algum convento, pois existia um em Serpa. No entanto, embora estejamos a trabalhar para conhecer mais o passado da receita ainda não temos informações literárias.



A minha história é semelhante à da minha avó na questão do desespero, não por comida felizmente, mas por soluções. Terminei o meu curso e fiquei desempregada num Alentejo profundamente envelhecido e sem grandes oportunidades.


Sou engenheira do ambiente de formação, e sempre disse que nunca ia fazer queijadas, pois vi o sofrimento da minha avó para gerir sozinha um negócio num território muito pouco povoado e em que a capacidade de compra é diminuta. Estava a desesperar por um emprego quando a minha avó foi operada às varizes e, para a ajudar, fui trabalhar para o lugar dela. Foi nesse momento que surgiu em mim a paixão pela Casa Paixão, resolvendo enveredar por este caminho tão especial.


Tenho esperanças que quando provem os nossos bolos sintam neles todas estas histórias e toda a paixão que metemos em tudo o que produzimos.



Com gratidão,


Ana Paixão